Texto Adaptado por Marcello Fundão
Personagens: Narrador:________________Sr. Robsom:___________________Menina:_____________
Colocar uma mesa no canto da Igreja com três cadeiras, algumas revistas, como se fosse uma barbearia.
Essa história é baseada em fatos reais cujo o nome dos personagens são verdadeiros.
Narrador: Certo dia Sr. Robson estava sentado numa sala de espera aguardando a sua vez para cortar o cabelo, com o Toninho da Super Quadra Tupã. Ele estava muito distraído, lendo uma daquelas revistas que sempre tem em sala de espera, quando adentrou uma menina, linda, magra, muito branquinha e aparentemente, de uns sete anos de idade.
(entra uma menina em cena vestida de acordo com o texto)
Ela esta usando um arco que lhe prende os cabelos finos e lisos que vão até os ombros, roupas de origem pobre, mas que também mostra um cuidado materno especial, pois estão limpas e cheirosas. Era uma criança impossível de não ser notada, sorriso aberto, carisma a flor da pele e trazia numa das mãos um cartão de loteria instantânea, dessas conhecidas como "raspadinha". Já completamente cativado o Sr. Robson não se preocupa em disfarça o seu encanto e fica ali no seu canto para que ela venha a lhe dirigir a palavra. Parece que o Sr. Robson sente que algo especial estava para acontecer.
Amanda - O senhor compra pra ajudar? É dez real...
Robson - Reais, você quer dizer dez reais, certo!
Amanda - É mesmo. Minha mãe sempre me corrige: dez reais. Mas o senhor compra?
Robson - Depende... Pra ajudar o quê?
Amanda - É pra ajudar a gente lá em casa. Meu pai tá desempregado e a minha mãe tá muito doente. Eu tô vendendo essa raspadinha aqui pra poder comprar leite pro meu irmãozinho. Ele tem dois anos e meio.
Narrador - A essa altura o Sr. Robson já tinha certeza de que compraria o cartão. Não que ele se sentia comovido com essa hitória tão comum do nosso sofrido povo brasileiro. Era puro encantamento com aquela menina.
Robson - Como é o seu nome?
Amanda - Amanda... (nesse momento Sr. Robsom fico com cara de espantado).
Robson – Como é mesmo seu nome?
Amanda – Meu nome é Amanda! Nossa! Como o senhor ficou vermelho!
Robson - É que eu tive uma filha que se chamava Amanda... A última lembrança que eu tenho dela, ela era assim como você... Sabe? Em todo lugar que eu vou eu sempre encontro uma Amanda.
Amanda - Onde tá a sua filha agora?
Robson - Ela morreu num acidente faz algum tempo.
Amanda - O senhor ficou triste, né? Desculpa...
Robson - Não, eu não estou triste. - Mas o que é que a sua mãe tem?
Amanda - Eu não sei dizer não senhor. Mas o meu pai vive chorando escondido. Ele bem que tenta disfarçar. Eu também finjo que não noto, mas eu sei que ele tá chorando. Eu não gosto de ver meu pai chorando... O senhor vai comprar, não vai? Eu vou contar um segredo: este cartão aqui está premiado, sabia?
Robson - É? Onde você conseguiu este cartão? E como você sabe que ele está premiado?
Amanda - Foi um anjo que desceu lá do céu e me deu ele pra eu vender. Ele disse que é um cartão premiado.
Robson - Um anjo?
Amanda - É! Por quê? O senhor não acredita?
Robson - Acredito sim. Mas se o anjo lhe deu o cartão e disse que é premiado, por que você o está vendendo? Por que você não raspa ele e fica com o prêmio? Assim você vai poder ajudar toda a sua família, a sua mãe...
Amanda - Mas eu não posso ficar com ele não senhor.
Robson - Por que não?
Amanda - O anjo me disse que era pra eu vender por dez real.
Robson - Reais!
Amanda - É. Por dez reais. E que não era pra eu raspar ele senão eu estaria sendo gananciosa. Eu não sei o que quer dizer essa palavra "gananciosa", o senhor sabe?
Robson - Eu também não sei não. - Esse anjo fala muito difícil... Mas eu tenho certeza que você não é isso não...
Amanda - Ele falou que eu tinha de dar a sorte pra alguém que eu encontrasse e que eu gostasse, e eu gostei do senhor. O senhor compra?
Robson - Como você sabia que era um anjo de verdade?
Amanda - Ele tinha duas asas bem grandes e desceu voando lá do céu.
Robson - Como era o nome dele?
Amanda - Ele não falou o nome dele não senhor.
Robson - E você não perguntou?
Amanda - Se o senhor visse um anjo o senhor ia ficar fazendo pergunta? Eu fiquei foi mudinha.
Robson - E por que esse anjo apareceu logo pra você?
Amanda - É que eu estava orando pra Jesus, pedindo pro meu pai arranjar um emprego e pedindo pra Ele curar a minha mãe, então o anjo apareceu pra mim. Ele disse que se eu vendesse esse cartão que ele me deu, por dez real...
Robson - Reais!
Amanda - É reais... Se eu vendesse, Jesus já tinha autorizado ele a curar a minha mãe e a arranjar um emprego pro meu pai, mas, que se eu ficasse com o cartão só ia acontecer coisa ruim.
Robson - Então se eu comprar o cartão que o anjo deu pra você, só vai me acontecer coisa ruim?
Amanda - Não. O senhor não entendeu. Eu é que não posso ficar com o cartão. A pessoa que comprar ele, vai tá sendo boa e vai tá acreditando no anjo. Então, pra quem comprar, só vai acontecer coisa boa. O senhor vai receber o prêmio e não vai mais ser triste.
Robson - Quem disse pra você que eu sou triste?
Amanda - Os seus olhos e o seu jeito de falar. O senhor parece uma pessoa triste, sabia?
Robson - Sabia... Tá bom. Eu compro o seu cartão.
Narrado - Deixando escapar um breve suspiro, Amanda agarrou os dez reais e, num gesto que deixou seu Robson surpreso e muito feliz, lhe deu um beijo no rosto.
(neste momento a Amanda dá um beijo no rosto de Robson e fica observando-o guarda o cartão no bolso, com um sorriso bobo nos meus lábios.)
Narrador – Seu Robson guarda o cartão, mas a Amanda fica decepcionada e lhe pergunta:
Amanda - O senhor não vai raspar pra ver se está mesmo premiado?
Robson - Não. Eu tenho certeza de que está.
Amanda - Mas se o senhor não raspar não vai poder receber o prêmio.
Robson - Eu já recebi quando você entrou aqui.
Amanda - Eu não entendi o que o senhor quis dizer.
Robson - Mas o seu anjo entendeu, minha filha. O seu anjo entendeu, meu anjo...
Amanda – Obrigado...
Narrador - Ela foi embora meio que desconfiada, olhando pra trás algumas vezes e seu Robson nunca mais a viu.
(Amanda sai de cena olhando para trás, enquanto o Sr. Robson senta na cadeira colocando a mão no bolso, dá um tempo e se retira, enquanto o narrador termina a história.)
Narrador – O Sr. Robson sempre volta ao Toninho ou para na super quadra para alguma coisa, corre os olhos pelas calçadas. Acreditando que um dia verá a pequena Amanda. Pois ficou em seu pensamento a preocupação de saber se sua mãe está melhor e se seu pai já "arranjou" um emprego. Quanto ao cartão, ele ainda não se atreveu a raspá-lo e crer que nunca o fará. De acordo com o Sr. Robsom, ele gosta de acreditar que é o único homem no mundo que ganhou um cartão de loteria premiado, dado por um anjo e trazido por outro. Quanto ao prêmio, penso que não pode haver um mais valioso do que esta história toda.
"A amizade é o amor que nunca morre" (Mário Quintana)
História escrita pelo Sr. Robson, Londrina-Pr - que perdeu sua filha Amanda (3 anos) no mar, durante as férias
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