Narrador: Sentados na mesma pedra à beira d´água , achavam-se os dois meninos, um bem vestido, rico e outro um pouco menor, pobre. Conversavam.Disse o primeiro.
Menino Rico: Que lindo cabelo tem parece de ouro.
Menino Pobre: Oh! que bom seria se meus cabelos fossem de ouro, pois assim minha mãe, que é tão boa, não trabalharia tanto.
Menino Rico: Tens Mãe?
Menino Pobre: Se tenho mãe? Como não.... Ela é que m me penteia os cabelo, ela é que me cura quando fico doente, ela é que me conserta a roupa; é ela ainda que vela o meu sono e me encoraja quando, nas noites escuras sinto medo ouvindo piar a coruja. Se tenho mãe, sim! Como não? Também não sou tão pobre assim!
Narrador: O menino rico não pode deixar de suspirar. E após, com voz triste disse:
Menino Rico: Pois eu não tenho! Minha mãe morreu quando eu nasci. Estas terras, com tudo o que nelas há, são de meu pai, que só tem a mim. No palácio em que moro já se hospedou um príncipe, com toda sua corte. O salão onde durmo é todo forrado de seda, com lustres de ouro e tapetes onde os pés se afogam. São tantos os meus criados que, a muitos tenho por estranhos e pasmo quando me pedem ordens.
Menino Pobre: E quem lhe conta histórias?
Menino Rico: Histórias? Leio-as nos livros.
Menino Pobre: Quem o veste e o penteia?
Menino Rico: Uma velha empregada.
Menino Pobre: Quem o encoraja à noite, quando a coruja chirria e o vento geme nas árvores?
Menino Rico: Oro ao senhor.
Menino Pobre: E quando adoece, quem fica ao seu lado, velando por você?
Menino Rico: As enfermeiras.
Menino Pobre: E quando a tristeza entra em seu coração, quem o consola?
Menino Rico: Choro.
Narrador: O menino pobre levantou-se e pondo a mão, num gesto amigo, sobre os ombros do menino rico encarou-o compadecido.
Seus olhos se encheram então de lágrimas.
O menino rico, notando os olhos rasos d´água, indagou:
Menino Rico: Por que choras? Que tens?
Menino Pobre: Choro de pena, porque nunca pensei que houvesse no mundo alguém mais pobre do que eu.
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