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Peça : monólogo: Maria Madalena

Monólogo: Maria madalena



Gessenilde Almeida Nascimento



Senti-me sozinha, mal – amada e como toda mulher judia eu não podia mostrar o cabelo e raramente o rosto, o que para mim era uma forma de me esconder da vergonha que sentia pela vida que levava. Todos na cidade me discriminavam, as mulheres não olhavam para mim e se eu passasse por alguém era como um animal sarnento e mudavam de caminho. Cheguei ao ponto de desejar a morte a ter viver daquela forma. Tomei a decisão de mudar de vida, mas para isso era preciso mudar também de cidade, tentei então encontrar uma forma mais decente de viver. Mas a mudança durou pouco tempo e logo minha fama chegou a Magdala, novamente caí em pecado e eu achava que não havia mais perdão para alguém que tinha ido tão longe como eu fui e os meus lideres religiosos deixavam isso bem claro. Certo dia ouvir falar que o Messias estava entre nós sendo conhecido como Jesus, o Cristo e naqueles dias Ele estava na cidade, alguns diziam que Ele não só curava como perdoava pecados também. ... Se eu pudesse encontrá-lo ... Ou tão somente vê-lo... Provavelmente Ele não se interessaria pelos problemas de uma prostituta. Pensei comigo. Numa certa noite eu estava num quarto, quando de repente fui capturada por uns escribas e fariseus que pareciam furiosos e me arrastaram pelas ruas da cidade, eu sabia que era meu fim pois eles diziam que eu seria apedrejada até que chegam em um lugar que me deixaram jogada ao chão aos pés de uma pessoa a quem eles chamaram de Mestre. Nunca me sentir tão humilhada e envergonhada como naquele momento, nem tão perto da morte.

Perguntaram ao Rabi o que deveria ser feito de minha pessoa. Mas Ele nada respondia notei apenas que devia ter se prostrado, me encolhi ainda mais temendo os arremessos das pedras dos meus algozes, mas ouvir o silêncio da turba e do Mestre que escrevia alguma coisa na poeira do chão, isso fez com os escribas e fariseus ficassem ainda mais furiosos e novamente perguntaram o que deveriam fazer comigo. Quando Ele se levantou fiquei ainda mais desesperada e Ele falando ao povo disse que em quem não houvesse nenhum pecado pudesse ser o primeiro a atirar-me as pedras. Agora eu estava perdida mesmo... Mas para minha surpresa, as pessoas foram deixando as pedras no chão e se retiraram um a um. Eu não conseguia entender nem acreditar. E só ficou Aquele a quem eles chamavam de Mestre e eu estendida ali no chão, mas tão assustada se quer conseguia me mover, Ele se aproximou de mim, então me atrevi a erguer um pouco a cabeça e notei e que estávamos sozinhos. Com suas mãos fortes ele me ergueu e disse que eu estava perdoada e podia ir embora sem mais pecar. Mal podia acreditar no que estava ouvindo e vendo. Envergonhada, levantei um pouco os olhos e fitei pela primeira vez um olhar de ternura e compaixão voltados em minha direção. O sentimento de culpa, minhas angustias, minha tristeza, tudo sumiu. E finalmente estava restaurada a minha esperança de uma nova vida. De um novo caminho ao céu. Eu sai dali, mas minha vontade era permanecer ali aos pés do Salvador, onde estava protegida de todo male ainda desfrutando de uma atmosfera celestial. Durante minha vida caí muitas vezes depois daquele episódio, mas nunca mais esqueci que não importava quão longe eu tivesse ido, aos seus pés eu encontrava alento e paz, então tentei demonstrar minha gratidão com um vaso de alabastro que quebrei e derramei em Seus pés e sequei com meus cabelos, por salvar uma pecadora e indigna. Mas diante de teus pés meus pecados foram perdoados.








Colaborador: Gessenilde Almeida Nascimento