Naquele lar pequeno era profundo o drama,
A mãe, viúva e pobre, as lágrimas derrama.
Pois seu filho único, a fuga preferira,
Para correr atrás do aceno azul de uma mentira.
Fantasias, ilusões, que os vapores do vinho
O levaram a sonhar um risonho caminho
Que não era do bem e sim do ócio e do vício
Risonho, talvez! Mas de cruel indício.
De declínio moral e triste perversão.
A fim de fazê-lo desistir de sua decisão
De a fortuna tentar na fartura do jogo,
A mãe, chorando,
Apela a consciência em fogo de seu filho insatisfeito:
_ Ah, não me deixe só. De que vale a vida sem você? Tenha dó.
De quem por vê-lo ao lado ainda suspira e chora.
Meu filho, pelo amor de Deus não vá embora!
E o jovem, sem dar ouvido a esse clamor,
Prossegue em sua busca. Infeliz sonhador.
Na cidade distante, onde o anseio o levara,
A hipocrisia e a dor somente ele depara.
O que julgara ser peregrina aventura
Era ali somente motivo de amargura.
Dos furtos às agressões foi a sua decadência
E até o suicídio esteve na eminência.
Mas o orgulho e o mal o impediam de lembrar
Que sua mãe em casa
Não cessava um instante de por seu filho orar.
Mas o jovem, coitado!
Não sentia mais amor
E de seus lábios impuros, com tanta revolta sentindo
Deixava escapar esses brados de horror:
Se é que Deus existe, o que faz em seu trono,
Permitindo a orfandade e os velhos no abandono?
Então a sociedade à dor alheia, intensa.
Ao pequeno despreza e ao poderoso inocenta.
Hei de ter cedo ou tarde a minha oportunidade
De destruir sem dó a torpe humanidade.
Maldito seja o mundo e seu sistema falho
Que se acomoda ao roubo e oprime o trabalho.
Família! Família é outra torpe e inútil conversão.
Diz que é célula mãe do povo e da nação.
Eu odeio o mundo e tudo o que nele há
Só mesmo a vingança é que agora me convirá.
E nessa confusão de revolta e descrença
Em que o ódio se choca a uma miséria imensa,
A noticia chegou da cidade natal:
- Volta depressa ao lar, tua mãe passa mal.
Ele ficou indeciso entre a tristeza e o medo
Parecendo escutar uma voz em segredo:
- Meu filho, onde estiver, atende ao meu apelo.
Desejo lhe falar. Preciso muito vê-lo.
Sem recurso qualquer, sem ânimo, sem fé,
Mas para rever sua mãe iria mesmo à pé.
Seguiu. E quando chegou à casa onde nascera,
soube cheio de horror que sua mãe morrera.
E lhe deixara só uma carta sem data.
Abriu e leu:
- Meu filho, a tua ausência ingrata é que me leva agora
A uma fria sepultura
Repleta de tristezas e cheia de amargura.
Eu fiz tudo para te-lo ao meu lado, feliz,
Na crença e no labor, porém você não quis.
O que é que o vício, o mundo e amor carnal podem lhe dar sem Deus
Senão a dor e o mal?
No entanto há termpo ainda, apela ao coração,
E receba, meu filho, a paz de meu perdão.
Sentindo-se culpado, o jovem mudo e sério,
Saiu pra visitar da vila o cemitério.
Achou de sua mãe a humilde cova rasa,
O fogo do remorso a consciência abrasa,
E diz a soluçar numa explosão de dor:
- de sua morte, ó mãe, eu fui o causador.
Sei que é tarde demais pra dizer de joelhos
que eu não soube atender aos teus sábios conselhos.
Voltei pra te dizer que te obedeceria
Mas de ti só encontrei a tumba triste e fria.
Como sinto agora o meu tempo perdido,
Nos vícios, no roubo e no labor incontido.
E agora, sentindo essa imensa saudade,
Quero falar de ti pra toda a mocidade:
- Jovens que agora me ouvem, creia no Deus eterno.
Não faça como eu fiz. Sofro a mágoa, embora.
Mas por seus pais e por Deus faça o melhor agora.
No altíssimo há amor.
Se é ruim este mundo,
Não busque na aventura o seu labor fecundo.
Só no seio de mãe há carinho e consolo
Quem busca a paz e o bem fora do lar é tolo.
Amando pai e mãe na vida, amigos meus,
É que se ama a Cristo e se obedece a Deus.
Um grande abraço com as bênçãos de Deus.
Sineilza Dias D`Ávila Soares |