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Tenho os olhos de cristal como moscas tristes
e meus cabelos estão sujos de tanto padecer;
meu corpo de criança só viu terra, lama e estrelas,
e meu coração, desejou apenas esperança.
Na miséria eu nasci, e, entre a
miséria meus pais me conceberam.
Nunca aprendi a desejar algo além
dos meus instintos e, quando
abri os olhos à verdade do mundo,
senti vergonha de ser chamado de irmão.
E sei que eu existo pelo mesmo
mistério de vida que o anima,
mas não tive a sorte,
os privilégios que você teve.
Enquanto você se animava num berço
confortável, eu enrolado em trapos,
choramingava numa caixa de papelão.
Enquanto você se deleitava numa
mamadeira de leite, eu sugava o peito magrelo
da minha mãe, que chorava de tristeza
por não ter mais nada para me dar.
Enquanto você brincava com maravilhosos
brinquedos, eu ficava maravilhado com meus
carrinhos de caixa de fósforos,
meus barquinhos de papel,
meus vidros quebrados...
Portanto, não exija muito de mim,
a não ser somente aquilo que eu posso lhe dar.
Defenda os meus direitos porque quero também fazer
parte deste mundo; para cá me mandaram;
eu era um anjo e caí sem ritmo no mundo.
Por favor, sorria, me respeite e lute por mim.
Sou apenas uma criança.
Ouça-me, não tenho medo agora que
você já sabe quem sou eu, de onde venho,
só não lhe falei ainda o que eu quero.
Mas olhe nos meus olhos e sinta que lhe peço apenas uma coisa:
AMA-ME POR FAVOR!