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Reflexão : Sob uma tempestade de neve

Bonnie Walker



- Chegou a hora da história! - disse Regina, enquanto se aconchegava ao lado da vovó - Conte alguma coisa de quando você era pequena...

- É, de quando você era pequena! - concordou Rubens, seu irmão.

- Uma história triste ou uma feliz? - perguntou a vovó?

- As duas! - as crianças responderam ao mesmo tempo.

- Bem, começou a vovó, lembro-me de como nós crianças nos divertíamos patinando no gelo, ao ar livre...

Eu gostava de ver os jovens e os adultos darem a volta na pista, de braços dados. Era emocionante! Tinha onze anos nessa época e o papai e a mamãe me disseram que poderia ir patinar no Ano Novo. Eu mal podia esperar por esse dia.

Estava se aproximando o Natal. Meus irmãos e irmãs mais velhos e seus amigos vieram da faculdade para passar o fim de ano conosco, o que tornou as festas de patinação ainda mais divertidas.

Então aconteceu. Três dias antes do Natal, acordei com muita dor de garganta. Eu tossia muito e a febre começou a subir. Tosse comprida! - foi o diagnóstico. Meus irmãos passaram a ficar numa cabana próxima e minhas duas irmãs foram para a casa de suas amigas. Todos estavam com medo de pegar a doença.

Agora eu não iria poder participar da festa de Ano Novo na pista de patinação! Chorei muito e isso apenas feriu ainda mais a minha garganta. Fiquei tão mal e com tanta febre que, em meu delírio, comecei a ver aranhas imensas subindo pelas paredes.

Depois de alguns dias, comecei a melhorar. Em uma manhã muito fria, enquanto observava a neve caindo lá fora, minha mente se encheu de pensamentos tristes. Poucos meses antes, havia tido catapora e logo depois estava com tosse comprida. Naquele estado, não pude mesmo participar da festa de patinação. Nenhum de meus amigos pôde me visitar. Sentia muita pena de mim mesma e estava ali, triste e encolhida na cadeira de balanço da sala de estar.

Num daqueles dias, ao olhar pela janela, percebi um passarinho preto e branco sendo levado pelo vento. Os flocos de neve o cobriam sempre que ele tentava pousar em algum galho ou no chão. Ele parecia totalmente frágil sob aquela tempestade. Então esse amiguinho começou a cantar maravilhosamente!

Eu estava com muita pena de mim, mas comecei a pensar nesse amiguinho lá fora. Com toda aquela neve, talvez nem tivesse comido o suficiente nos últimos dias, e lá estava ele cantando para mim! Peguei um pedaço de pão de minha bandeja e cortei em pedaços bem pequenos. Embrulhei-me num cobertor para me proteger do frio, fui até à porta da sala e joguei as migalhas nos degraus cobertos pela neve.

Voltei imediatamente para dentro de casa e corri até à janela. Vi quando a pequena ave comeu um pouco e depois voou para longe. Pensei que tivesse ido embora e me sentei novamente na cadeira de balanço, esperando o tempo passar. De repente, ouvi o canto outra vez. E dessa vez era de muitos passarinhos. Ele havia trazido sua família e os amigos para participarem da festa!

Enquanto os observava, senti Deus muito perto de mim. Agradeci a Ele o presente que me havia enviado quando necessitava tanto de uma companhia.

E sabem de uma coisa? Hoje compreendo que Deus sempre tem uma coisa boa para nos dar, mesmo quando acontece algo de ruim, concluiu a vovó, abraçando os dois netinhos.



(Extraído de Adventist Review, fevereiro de 2004, pág.16.)


Colaborador: (Extraído de Adventist Review, fevereiro de 2004)