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Poesia: Vou subindo o Calvário

Vou subindo ao Calvário



A montanha escarpada e tétrica...



Sou uma das filhas de Jerusalém a quem o Mestre disse:



“Chorai antes por vós mesmas...”



meu coração está cheio de dor e as lágrimas que me caem dos olhos lavam todo o meu rosto...



Mestre amado! Mestre amado!



Tu que és o Santo de Deus, sem mácula e sem pecado.



Tu que me curaste e me salvaste;



Tu, que tens palavras de vida eterna, sendo a Vida e a Verdade, por que sofres assim? Porquê?



A multidão heterogênea grita e zomba...



Mas as crianças lamentam...



A meu lado uma pequenina exclama:



“Ele me abençoou!”



E as mães, uma a uma, revelam a benção recebida....



Ele me curou, Ele me deu vida!



Vou subindo o calvário



Sou uma das filhas de Jerusalém



Choro por mim e por nós e por nossos filhos...



O cordeiro de Deus vai ser imolado em nosso lugar!



Vede-o irmãs!



Tem a face toda ensangüentada com o sangue que lhe corre a fronte, onde foram cravados os espinhos da coroa.



Mas o seu andar, é o andar da segurança que vai buscando a glória certa!



Chegamos ao alto da montanha.



Olho os céus, estão enevoados, o azul-pureza, o azul-misericórdia escondeu-se por entre as nuvens.



Procuro o Mestre



Vejo-o ladeado por Maria e João que choram copiosamente...



Muitos choram...



Há uma música de soluços no ar como se fossem as asas leves e ligeiras do perdão mais singular, esvoaçando em sons...



Agora deitam brutalmente o meu Senhor sobre o pesado madeiro e batem os pregos...



A martelas chegam à profundeza da minha’alma... levantam a cruz...



Plantam-na sobre a cova funda, ficam todos ali, ao pé...



E eu?



Um pouco mais afastada, só um pouco mais.



Oh! Que cenário, meu Deus! Único e último.



O cenário da paixão que a vida humana jamais presenciou...



Críticas... zombarias e motejos.... leviandades...



E a voz do Mestre, como lírio desabrochando dentro dos lodaçais:



- Pai, perdoa-lhes...



E repete, soluçando, suspirando, esvaziando-se em suor e em sangue vivo;



- Perdoa-lhes...



As lágrimas de Cristo! As suas lágrimas na cruz!



Eu estou ali, um pouco afastada, só um pouco afastada...



Mas sei que Ele me vê!



Oh! Eu sinto que Ele sabe o quanto o amo e o quanto o desejo servi-lo. Todavia, sou uma estranha ali no alto do Calvário na tétrica montanha.



Ouço agora, ecoando como ecos de eternidade, dentro da minha vida;



- Tudo está consumado!



As trevas aparecem caindo, rápidas, como um cerco de nuvens negras...



Então eu me aproximo... ninguém me vê, senão Ele, o Cristo de Deus, pois só Ele sabe que estou ali.



Abraço-me a seus pés.



Oh! Ele está morrendo por mim!



Encosto o meu rosto a esses pés gelados... e sinto o seu amor naquele gelo...



Minhas veste brancas ficam borrifadas com o seu precioso sangue, mas eu fico ali...



Misturo com as suas, as minhas lágrimas pois elas descem até o chão... eu fico chorando, chorando, chorando... mais alto, mais alto , mais alto!...



Parece-me que não poderei mais parar de chorar... ninguém me escuta, pois só se ouve, com espanto, o troar dos terremotos e o esfacelar de pedras dos sepulcros que se abrem...



Afasto-me, só um pouco mais... que aconteceu comigo?!



Os borrifos do sangue nas minhas vestes se transformaram em rosas rubras da sua graça! E são tantas rosas!... Apanho-as, o quanto posso, e desço a montanha, cantando:



Ele é o meu Senhor! Morreu por mim e Ele me ama!



A multidão exclama: Este Homem era um justo!



Passaram-se os tempos, vivemos o ano de 2005, Ele que é o mesmo ontem, hoje e eternamente, comunica-se conosco, vive em nós, manifesta-se a nós,



Pois é a nossa Dádiva, é o Pão que desceu dos Céus, é o Deus Conosco, é o Verbo que veio representar o Pai.



E continua a viver por nós, intercedendo por nós, preparando-nos um lugar,



Ele é todo amor e persiste chamando: “Vinde a mim”!



Tu não O vês?



Não O escutas?



Estás falando... e a tua fala o impede...



Aceitas o barulho do mundo...



É por isso que não O percebes...



Agora silencia. Cala-te. Cerra as pálpebras. Nega-te a ouvir os ruídos em derredor...



Então escutarás melhor, mais forte, plena, absoluta, incomparável, a sua voz, a sua gloriosa voz dizendo:



“Dá-me filho meu, o teu coração!”


Colaborador: Ruth C Cunha